quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Brincadeiras da infância

Aonde nós morávamos, na mesma rua tinha muitas crianças. Era uma turma muito bôa e querida. Já fazia 7 anos que morávamos na mesma casa e os outros companheiros mais ou menos o mesmo tempo. Tínhamos um clube, chamado Clube dos Amigos. Fazíamos teatro e andávamos de patins. Quem quizesse tomar parte tinham que pagar 20 reis por mez. A 50 anos atrás era muito dinheiro. Uma vez por mez tinha grande festa pois fazíamos uma grande corrida de patins com premio e tudo. Não quero nem me lembrar, quase matei meu amiguinho pois quis jogar um meio tijolo que estava no meio do caminho e acertei na cabeça dele, que fez uma brecha e saiu sangue demais. Foi aquele corre corre, chamaram minha mãe, assustou-se muito, e enquanto ella fazia o curativo eu fui me feixar no quarto. Só pensava que elle ia morrer e comecei a rezar para não ser nada de grave. Se fôsse um centímetro mais baixo teria acertado na fronte e acabou-se a festa. Ninguém quis correr mais de patins. Uma amiguinha também caiu e machucou-se. Mamãe acabou com o jougo, só continuamos com o teatro. Fazíamos cada teatro lindo e nossa sala era grande, dava bem. Cobrávamos 200 reis a entrada e comprava-se doces. Os vizinhos, pais dos amiguinhos iam também e pagavam a entrada e gostavam muito.
Uma vez esávamos ensaiando uma peça de Dirceu e Marília, esperando a minha mãe sair. Rápido pegamos uma meza redonda que aberta dava uns 3 metros de comprimento, que dava um optimo palco, pegamos uns lençois de linho enormes que minha mãe tinha e fizemos o pano de ???, ficou óptimo. Estavamos no melhor do ensaio, ainda me lembro das frazes (de onde vens, ó mensageiro, que novas trazes) e o mensageiro responde ( Nova tristes e são contra ti, é morta Dona Marília que tanto amavas) ahi eu fiz uns gestos trágicos, e só podia dizer - Ó, Ó - e caia desmaiada nos braços do mensageiro. Ahi entra minha mãe em cena, inesperada. "Eu te faço acordar bem rápido deste desmaio se em meia hora não tiver tudo guardado e limpo".
Assim levávamos a nossa infância.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Recomeço em Pelotas


Mamãe tinha muitos amigos principalmente a família Magalhães que recomendou mamãe para as melhores famílias da cidade. Ella teve sorte pois no fim de um ano já pôde mandar vir os filhos todos para o se lar. A primeira coisa que fez foi pôr-nos no colégio. Eu me lembro que no meu tinha a Diretora que chamava-se Mariquinha. Era diretora e ao mesmo tempo professora. Mas como era braba. Só sabia das puxões de cabelos, eu não sei como não ficaram todas carecas. Tinha um colega chamada Barbosinha, por qualquer coisa deixava o menino de pé no banco com o braço para cima, tinha 8 anos e olhe lá se abaixasse o braço era reguadas até ficar roxo. Quantas vezes eu pedia para ficar no lugar do menino e outros que tinham a infelicidade de ser castigados.
A minha irmã tinha um cabelo muito bonito e cacheados, pois implicava com ella, puxava todo para traz e prendia com grande grampo, parecia uma velha e nós dava muita risada.
Ficamos um ano nesse colégio, não se aprendia nada. Eu e mais três irmãs entramos no outro colégio de D. Mariana Tôrres. Esta era mais compreensiva e bondosa. Esta tinha o curso de professora tirado na escola normal de Porto Alegre e não é para me gabar mas sempre a professora me elogiava muito. Dizia que eu aprendia com muita facilidade e assim ella me pedia para ajudá-la. Já estava na quarta serie primária. Como eu gostava de lecionar naquele tempo não havia escola normal em Pelotas eu não podia tirar o curso de professora. Tinha que ir a Porto Alegre e minha mãe não quiz se separar outra vez de mim. Fiquei como ajudante da minha professôra. Completei o curso, eram 8 anos o curso completo, com medalhas e diplomas de honra. Eu ajudava muito minhas irmãs que não tinham tanta facilidade de aprender como eu. A minha irmã mais velha estava num colégio particular mas nem por isso aprendia mais que eu, só que aprendia a bordar, desenho, e francez extra.
Uma vez apareceu a professora da Chiquinha, minha irmã mais velha, queixou-se que já fazia uns 4 dias que ela não ia as aulas. Mamãe não era de brinquedo. Levou uma surra que nunca mais teve vontade de gazear as aulas nas casas das amigas.

O curso de parteira


Parentes de papai e mamãe e os chefes dele aconselharam a mamãe a estudar e tirar o curso de parteira. Assim é que os filhos foram repartidos entre os parentes. Eu fui para a casa de uma tia, irmã de mamãe. Meu irmão e as duas irmãs menores foram para a casa de meus avós maternos e a outra irmã foi com um tio paterno. Minha irmã mais velha ficou com minha mãe morando na casa de minha avó paterna. O meu irmão que nasceu depois da morte do papai, morreu no parto.
Minha mãe ficou estudando 5 anos, tirou o curso de médica parteira. Ela já tinha curso superior.
Tínhamos uma parente muito bôa, tia Thais Paulinel. Todos os Natal ella mandava um enxoval completo para cada um de nós e para minha mãe também. E que enxoval, o que havia de bom, não de luxo mas útil. O marido tinha uma loja em Porto Alegre na rua dos Andradas.

Ficamos estes 5 anos vivendo nem muito feliz e nem muito infeliz, sabe como é viver em casa de parentes e ainda mais quando já tem filhos. Só quem vive longe da casa paterna é que sabe e pode falar. Minha mãe ia todos os Natal nos visitar. Que dia mais alegre e feliz era aqueles. Depois de 5 anos, mamãe formou-se e tirou o diploma de médica parteira com as melhores notas. Ahí ella embarcou para Pelotas e começou a enfrentar a vida. Levou minha irmã Chiquinha, a mais velha e começou a luta pela vida.

A morte do pai

Um dia bateram à porta um triste mensageiro, pois vinha avisar minha mãe para ir ao hospital que meu pai estava agonizante dum ferimento de bala. Pois elle tinha ido caçar com um companheiro pois disparou a espingarda justamente nas costas de meu pai. Foi uma tragédia horrível. Só me lembro quando levaram o caixão levando meu querido pai. Nosso lar ficou triste. Minha querida mãe não sei como não morreu de dor.
Os chefes do meu pai foram muito bons, ajudaram com todas as despesas porque meu pai só vivia do ordenado. Dava bem, mas não deu para guardar e assim minha mãe ficou sem nada e ainda esperando um filho. Quem nos ajudou muito foi os parente de papai e mamãe e o chefe dele. Aconselharam mamãe a estudar e tirar o curso de parteira.

A volta para casa e reencontro


Me despedi do avô querido e de todos, e dos campos, do moinho, dos rios que muitos banhos tomei.
Lembro-me que não tinha estradas, só tinha um carreiro que só passavam os burros com balaios dos lados e isto era as conduções de viagem. Homens e mulheres iam a cavalo e as crianças nos balaios, eu também. Era um caminho que tinha trechos que nem se via o solde tão fechado. De vez se via um raio de luz furando a mata. Por mais que me esforçasse não me recordo como foi que me vi dentro de um vapor de roda que fazia carreira de Porto Alegre a Pelotas e no outro dia chegamos. Eu fiquei tão alegre de me ver nos braços de minha querida mãe e irmãos. Minha vó veio com nós. Minha mãe e irmãos ficaram contentes de vê-la. Minha vó trouxe muitos prezentes como queijos, prezunto, frutas, ovos, e rapaduras de leite e manteiga. As frutas desapareceram logo, foi tal o avanço que não sobrou muito.
Mamãe ficou alegre de ver-me firme nas pernas outra vez e a vida continuou mais um ano feliz.

A poliomielite e a estadia na casa dos avós

Porto Alegre - 1870

Reminiscência do meu passado e presente.

Nós éramos uma família de 8 pessoas, meu pai, minha mãe, 5 irmãs e um irmão. Não tenho muita lembrança do meu pai, pois quando morreu eu tinha apenas 7 anos. Sei que ele era gerente de uma grande livraria . Era muito bem quisto dos seus superiores. Vivíamos felizes.
Lembro-me que um dia dei um susto aos meus pais pois fiquei doente. Não lembro-me bem o que foi só sei que quando levantava, não podia caminhar direito. Hoje eu diria que fôsse piomolite (entenda-se poliomielite), mas não devia de ter sido muito forte porque conseguia caminhas, mas sempre caindo. Me lembro que vinha o médico.
Sei que no final de um ano já andava melhor. Resultado foi que meu pai levou-me para a casa dos meus avós que moravam no interior de Porto Alegre, num sítio muito bonito entre montes e vales. Meus avós maternos muito queridos, não sabiam o que fazer para me adularem. Fiquei um ano lá. Fiquei robusta, forte e corada, vendia saúde. Meu avô tinha um moinho no qual muitos sustos dei a elles, pois, eu parecia uma cabrita, não parava o dia inteiro a correr pelos campos e no meio das rodas do moinho.
Um dia tive uma surpresa quando chego em casa, quem apareceu na minha frente, o meu querido pai que vinha me buscar. Ficou contente de ver-me tão forte, abraçava-me, beijava-me, deu-me um pacote de bala de peixinhos que sabia que eu gostava muito. Dois dias depois estávamos viajando de volta.

Um caderno precioso


Um dia minha sogra, Solange Essenfelder,  me contou sobre um caderno, não um qualquer, era um caderno escrito pela sua avó com as lembranças de sua vida. Imediatamente aquilo me chamou a atenção e pedi para ler. Recebi de suas mãos um caderno já envelhecido pelo tempo, com algumas páginas se soltando, amarelado, mas com conteúdo inigualável. Comecei a ler e não conseguir parar mais. Desde então, prometi a ela e a mim mesma que transcreveria todo o caderno para o computador.
Começo hoje a transcrever as memórias de Alayde. O caderno de Alayde contém memórias de sua vida pessoal, familiar, percepções do seu tempo e fatos que ocorreram no mundo. Não é um trabalho muito extenso, porém é muito precioso no seu conteúdo e delicioso de ser lido. Com certeza levará algum tempo para ser todo registrado aqui, mas logo teremos as memórias e histórias em um lugar onde todos possam ler - um blog! Quem diria...
Transcreverei as memórias tal qual foram escritas com a linguagem e termos da época. Erros de grafia também serão mantidos por fazerem parte do contexto.